segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Happy B-Day!

Diadorim.

Drama queen.

Pedaço de mim.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Adolável

Meu quelido Cebolinha tem agora dois anos e meio de pura fofura.

I.
No carro, pensativo, pergunta para a mãe:
- Mamãe, puquê qui eu num tô na icola?
- Porque hoje é domingo, filho, não é dia de ir pra escola!
Ele reflete mais um pouco e insiste:
- Então puquê qui eu acoidei?

***
II.
No caminho para o restaurante, me informa, com exatidão:
- Dinda, é aqui que a Mamãe tabaia.
E enquanto a mãe estaciona o carro:
- Ói, Dinda, aquele calo é igual o do papai. Chama “cóissa”.
- É mesmo, Gabo? E é da mesma cor?
- Não.
- E a cor do carro do papai, você sabe qual é?
- Sei.
- Como chama?
- Vô ti mostá, ele diz, didático. Mas, como a cor exata não aparece, prefere me explicar:
- É azul. Azul iculo.

***
III.
No restaurante, o Cebolinha só enrola na hora da comida. O negócio dele é tomar “água de coquinha” e fazer bagunça. Quando a garçonete passa recolhendo os pratos dos adultos, ele avisa:
- Teleza, podi tilá o meu pato.
Depois, com os bambus do jogo americano na mão, faz sua performance de baterista:
- Um, dois, tês, quato! Aaá-tileiupaunugá-tô-tô...
Fico esperando a cena na hora de ir embora e deixar para trás as “baquetas”. Pois ele as abraça compenetrado, vai até a garçonete e, solícito, as deposita em seus braços:
- Tó, Teleza, taqui o seu bambu!

***
IV.
De volta ao carro, pego o fofo no colo para colocá-lo na cadeirinha. Aproveito para dar um abraço daqueles. Cebolinha faz carinho no pescoço da Dinda e pergunta:
- Dinda, puquê qui você num tá di colá?
- É pra você me abraçar melhor, meu amor!
Os olhos escorregam para baixo do meu pescoço.
- Dinda! Você tem peito?
- Eu tenho!
- Ondi qui tá?
- Tá aqui!
- Num tô vendo!
Ponho o danado no carro pra encurtar o assunto.

***
V.
No shopping, enquanto a mãe escolhe umas bermudas na seção infantil, nos divertimos vendo as camisetas de personagens.
- Ói, Dinda, é o Supelómen!
- Não, Gabo, esse é o Batman!
- Dinda, o Batnan mola no caitelo?
Tento fazer cara de esperta e descolada:
- Mora sim!
Gabo desconfia:
- Dinda, puquê qui o Batnan mola no caitelo?
Disfarço minha ignorância:
- Ué, Gabo, se ele não morasse no castelo ia morar onde?
- No bulaco!

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

De acordo

Há quem defenda o novo acordo ortográfico com unhas e dentes. Esse tipo de convicção intelectual sempre me causou inveja. Estou mais para aqueles que em um primeiro momento viram o acordo com desconfiança e, mais tarde, por força do ofício e/ou compromisso com a educação linguística, acabaram entendendo a nobreza da causa e perdoando as imperfeições e incoerências da proposta, ou simplesmente aprendendo a pôr o hífen no seu devido lugar. A partir de 1º de janeiro de 2009, passei a escrever “frequência” sem trema, “egoico” sem acento agudo e “autoescola” sem hífen (o pobre do Word insiste em dizer que estou errada, mais por fora do que surdo em bingo). Em uma noite de fúria, após assistir a uma entrevista de Ferreira Gullar no Programa do Jô em que eles atacavam o novo acordo com os pseudoargumentos linguísticos mais equivocados da história da televisão, escrevi um e-mail gigante à produção do programa, apontando, com muita educação e paciência, todos os sofismas e falácias embutidos no discurso dos caros colegas. Ganhei uma resposta automática com um beijo do gordo e, para fazer jus às horas gastas diante do computador, reencaminhei o e-mail aos amigos, com a esperança de desfazer alguns equívocos sobre o assunto que corriam a boca miúda.

Graças a esse e-mail, conheci o outro extremo do espectro dos amores ortográficos: os radicais da turma do contrário. Cheguei a trocar mensagens durante meses com o irmão de uma amiga, a quem ela havia repassado o meu e-mail, reunindo argumentos, traçando paralelos com outras iniciativas e indicando artigos de pessoas mais gabaritadas do que eu e que defendem a importância da proposta. A minha própria amiga, possivelmente influenciada pelo irmão (que acabou me vencendo pelo cansaço e se considerando vitorioso na nossa querela), chegou a “descorrigir” as minhas atualizações ortográficas em um projeto que ela pretendia inscrever em um edital, depois de pedir que eu o lesse, comentasse e fizesse sugestões. Eu ainda acho que há causas mais nobres do que a ortografia para inspirar atos de desobediência civil, mas cada um sabe o que faz o seu coração bater mais forte...

Entre os apocalípticos e os integrados, o pessoal do meião. Manélson, por exemplo: menos preocupada com as implicações teóricas e mais interessada nas consequências práticas, ainda não havia conseguido decorar as novas regras, mas temia cometer alguma gafe ortográfica. É claro que Manélson aproveitou o nosso jantar de fim de ano, em restaurante japonês moderninho, com música instrumental, luz de velas e saquê, para aprender o beabá do novo acordo. Quem visse de longe a cena poderia até imaginar que abríamos nossos corações a respeito de dilemas amorosos, filosóficos ou existenciais (é claro que passamos por essa etapa), mas se chegasse mais perto da mesa descobriria o nosso segredo:

- Mana, até agora não entendi nada! “Ideia” não tem mais acento por quê?
- Calma, Mana, é facinho. Vamos lá: você lembra o que é ditongo?
- Hum, vagamente...
- Há dois tipos de encontro vocálico, ou seja, de vogais pronunciadas em sequência: o ditongo e o hiato.
- Tá.
- O ditongo é quando o encontro vocálico acontece em uma mesma sílaba, tipo em “ideia”. Repete comigo: i-dei-a.
- I-dei-a.
- Viu que o “ei” ficou junto, na mesma sílaba? Ditongo. Se fosse “saída”, seria um hiato.
- Sa-í-da. Aham.
- O “ei” em “ideia” é um ditongo aberto. Olha a minha boca: i-dei-a. Joi-a. He-roi-co. Se fosse “meia” ou “moita”, seria um ditongo fechado. Lembra do que é paroxítona?
- Hum, vagamente...
- É a palavra que tem a penúltima sílaba tônica. Repete comigo: i-dei-a.
- I-dei-a.
- Então, a nova regra é a seguinte: todos os ditongos abertos em paroxítonas deixaram de ser acentuados... Mas só os ditongos abertos, e só em paroxítonas. É por isso que “heroico" perdeu o acento, mas “herói” não.
- Caramba, como é que eu vou lembrar disso?
- Faz o seguinte: pensa numas palavras-chave, que você pode ter como parâmetro. Se pintar a dúvida, você associa com uma dessas palavras e segue a mesma regra. Eu fiz assim.
- Hum, legal!
- Agora vamos aos acentos diferenciais...

No dia seguinte, o último de 2009, a ruiva anunciava à comunidade tuitense:

"Vou fechar o ano entendendo o novo acordo ortográfico graças à amiga Manelson que infelizmente não tuíta. Ganhei aula regada a sakê".

Na sequência, me mandou o tuíte e um complemento:

“Adorei nosso jantar, achei ótima ideia, tipo uma joia, muito mais útil que uma panaceia. Sempre ajuda para o autoconhecimento e evita que nos tornemos antissociais. Um voo livre de delícias e bom papo. É legal quando duas pessoas que se gostam tanto se veem e creem em coisas parecidas.”

Para não ficar para trás, dei o troco na mesma moeda:

“Mesmo não morando na Pompeia, você nunca boia na conversa; é daquelas pessoas que leem pensamentos, além de ser uma fera da auto-observação. Se eu fosse um aviador, você sem dúvida seria meu copiloto. Jantar com você é bom até numa baiuca! E tenho dito!”

É! Cada um sabe o que faz seu coração bater mais forte...

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Dedico esse post ao meu pai, cujo coração palpita mesmo é pela dita “norma culta”, para tristeza da filha militante da variedade e tolerância linguística. Feliz aniversário, Papi! Que as nossas paralelas continuem sempre se encontrando no infinito...

domingo, 3 de janeiro de 2010

Butô




Ao corpo dei movimento,
De sonhos a mente forjei,
Reguei a alma com as mãos.

De tudo o que sabia fiz
Para cuidar de mim.

Em vão. Gris
O coração inda singra
Em vagas turvas
De solidão sem fim.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Chame a Júpiter

– Alô, bom dia! É da Júpiter? Por geintileza, *snif*, vocês têm convêñio com o...*Snif*, só um biduto... AH... AH... ATCHIM! Desculpe... Vocês têm convêñio com o Condobíñio, *funga-funga*, Baresias para deseintupibeinto de ralo, correto? Perfeito, *snif-snif*! Gostaria de ageindar a, *schuif*, visita de um de seus técnicos e... Bobentiño, por fav... AH-AH-AAAAAAAATCHIM!!!!! *Schuif*, desculpe, boço. Olha, se você tiver um serviço de deseintupibeinto de dariz, tô precisando também, viu?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Conversas privadas em lugares públicos

Mais uma de banheiro, fonte permanentemente renovada de inspiração.

Mudamos de sede. Foram-se os banheiros individuais. Durou pouco a minha alegria: voltei aos velhos tempos de proletariado, partilhando com as colegas de trabalho os odores e ruídos de nossos momentos mais íntimos.

Nada que se compare aos constrangimentos do emprego anterior, quando a chefe nos chamava para ir ao banheiro e despachava em pleno ato de, digamos, despachar. Aqui pelo menos se mantém certo decoro; respeita-se, na medida do possível, a privacidade alheia.

Ainda assim, confesso que ando tendo problemas. Não sou do tipo que se recusa a fazer o número 2 fora de casa; pelo contrário, sofrendo de prisão de ventre desde criança, aprendi a nunca ignorar um chamado da natureza (e ela se supera a cada dia na capacidade de me chamar nos lugares e momentos menos apropriados – conheci o banheiro de boa parte das livrarias, supermercados, farmácias, lojas de móveis e rodoviárias que já visitei na vida). Mas já vou para o banheiro rezando para não encontrar ninguém e, se encontro, torço para não puxar assunto. E acabo levando pelo menos o dobro do tempo que levaria no antigo banheiro individual, em radicais e surpreendentes manobras para me tornar invisível, inaudível e inodora.

O número 1 também é uma lástima. Se acontece de eu entrar em uma cabine ao mesmo tempo em que outra pessoa adentra a cabine ao lado, nunca, jamais, em tempo algum consigo iniciar os meus trabalhos antes dela. Parece até um acordo de cavalheiros: “você primeiro, por favor, faço questão!”; “que é isso, de forma alguma, tenha a bondade!”.

Tempos atrás, a situação, que já não era das mais confortáveis, ganhou um novo ingrediente. Tentei ignorá-lo o quanto pude, afastando meus pensamentos dessa perturbadora constatação. Até o dia em que o inevitável e-mail de Amiga Fanta entrou em minha caixa postal: “MEU!!! É impressão minha ou quando a luz do banheiro está acesa dá para ver o interior da cabine refletida no vidro da janela???”. Me fingi de morta: “Pois é, parece que sim...”. Mas Amiga Fanta não deixou barato: “Ai, depois desce aqui no meu andar para fazer um teste comigo? Eu entro na cabine e te dou tchauzinho e você vê até onde me enxerga?”. Desconversei, mais uma vez: “Ai, Amiga Fanta, forget about it... Vamos partir do pressuposto de que ninguém vai entrar no banheiro com intenções voyeurísticas, né?”. E lá foi ela, a nossa certificadora de qualidade, inclemente, fazer o teste do banheiro e constatar que a visão externa da cabine revelava a intimidade da usuária do pescoço para cima. Sim, um tanto quanto perturbador. Mas procuro fazer disso um exercício de crescimento espiritual.

Naquela mesma semana, em uma carona coletiva até o Metrô Vila Madalena, a tal janela indiscreta rendeu muitas e muitas anedotas sobre banheiro, chamados inconvenientes da natureza e saias-justas envolvendo o aparelho excretor. Todo mundo tem pelo menos uma história própria, ou ocorrida com alguém próximo, para contar. A minha, por exemplo, envolve uma dor de barriga tenebrosa na minha chegada ao Peru, na casa dos amigos do meu avô, quando a descarga me deixou na mão. Sorte que havia um balde embaixo da pia e, com alguma paciência e muitos baldes de água, consegui eliminar as provas do crime. Bem, essa é uma história publicável. As impublicáveis, nem aqui...

Coroei a minha fase de problemas privados em lugares públicos na última quinta-feira, durante a festa de fim de ano da “firma”. Depois de uma “atividade cultural” (a única, apesar do grandiloquente nome do evento de dia inteiro: “Jornada cultural”) de uma hora e vinte, corri para o banheiro com a bexiga em ponto de bala. Logo atrás de mim mais uma horda de mulheres igualmente precisadas daquele momento íntimo com a privada. Pronto, foi o que bastou: meu xixi não saía de jeito nenhum. Precisei me concentrar, fazer uma breve meditação e entoar alguns mantras para vencer aquela barreira psicológica. E, ao sair da cabine, ainda me senti na obrigação de dar uma satisfação “a la Costinha”: “Nossa, só de saber que tinha esse monte de gente aqui fora, esperando para usar o banheiro, fui acometida pela síndrome do pinto tímido!”

Bem na minha frente, liderando a multidão, nada mais nada menos do que ela, verdadeira força da natureza, primeira, única e inigualável: a temível Moça do Comercial. Vamos chamá-la assim para evitar constrangimentos. Se você não a conhece, posso traçar o seu perfil psicológico em poucos segundos: animada, fala alto, ri mais alto ainda, desconhece qualquer traço de timidez e é o retrato da extroversão. É claro, ela é da Equipe Comercial! É ela quem sorteia os brindes da Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho; é ela quem grita “LINDOOOO!!!! EU TE AMOOOOO!!!” para o seu colega de equipe músico que resolveu dar uma discreta palhinha no almoço da festa de fim de ano; é ela quem aproveita o descuido do garçom, que derruba uma garrafa de cerveja em cima do moço da área de TI, para cantar uma música de strip tease e tentar tirar a blusa do rapaz em frente ao Diretor Geral. Sim, senhoras e senhores! Essa é a Moça do Comercial!

Voltemos à cena que há pouco acontecia no banheiro. Antes que eu pudesse atinar quanto às consequências do meu ato, soltei a piada do “pinto tímido” em alto e bom som diante da Moça do Comercial. “PINTO TÍMIDO?????” Ela repetiu, certificando-se de que ninguém em um raio de 30 metros deixasse de ouvir. “Feminino...”, acrescentei, derrotada, com um fio de voz.

No dia seguinte, a Moça do Comercial passou algumas vezes diante da minha mesa sem dar sinais de se lembrar do ocorrido. Minhas esperanças se renovaram: nem tudo estava perdido! Mas, antes de deixar o andar, a uma distância suficiente para que todos os meus colegas de equipe a ouvissem, soltou: “Muito interessante aquela sua frase no banheiro ontem, heeeeeein?”.

Por alguma razão, pensei em empadinhas envenenadas.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sexo seguro, questão de vida ou morte

Meu blog não aspira a qualquer finalidade pragmática. Escrevo quando quero, sobre o que quero, falando daquilo que me toca, choca ou move sob uma ótica absolutamente pessoal. Fico feliz quando as pessoas gostam do que leem aqui, mas não levanto bandeiras, nem espero que concordem com o que eu digo.
Por outro lado, inegavelmente atinjo com meus posts um número de pessoas considerável. Alguns me conhecem e leem sempre, outros caem de paraquedas e acabam ficando, outros ainda dão uma bisbilhotada ocasional e depois seguem seu caminho. Pois hoje resolvi tirar partido dessa visibilidade para falar sobre algo que tem me preocupado muito, mesmo correndo o risco de me expor mais do que eu gostaria. Desculpem se minhas palavras incomodarem ou ofenderem alguns, mas há verdades que precisam ser ditas sem rodeios.
Estou muito, muito impressionada com a quantidade de homens que, em encontros casuais, já tentaram me convencer a transar sem camisinha. Estar desprevenido é chato, mas acontece nas melhores famílias; daí a achar que a falta de camisinha pode ser ignorada “só dessa vez” é uma burrice atroz. Essa proposta literalmente indecente costuma vir seguida de perguntas e afirmações tão absurdas quanto ela: “mas você não toma pílula?”; “confia em mim”; “eu tiro antes”; e mais uma infinidade de comentários que me fazem lamentar não ter um sistema de ejeção para expulsar o infeliz da minha casa antes que ele tenha tempo de abrir a boca novamente.
Acho inconcebível que em pleno século XXI, convivendo há décadas com a existência da AIDS, pessoas instruídas, bem nutridas e bem informadas ainda consigam se expor e expor os outros a esse tipo de risco, sem preocupação nem peso na consciência. Hoje, felizmente, a AIDS não é mais a sentença de morte que já foi antigamente; nem por isso se tornou menos grave e diminuiu a necessidade de se fazer sexo seguro.
Não estou tentando convencer ninguém a achar que camisinha é uma delícia, ou que dá na mesma transar com ou sem. No entanto, diante da evidência de que a via sexual é privilegiada na transmissão de doenças graves, só posso responder ao argumento duvidoso de que “a camisinha tira o prazer da transa” com outra evidência: não é uma questão de escolha. Não existem duas alternativas. Se o homem não consegue manter a ereção com camisinha, que não faça sexo com penetração. Você chuparia uma bala com veneno?
Outra coisa que não entra na minha cabeça é o discurso da “confiança”. Hoje já chegamos a um ponto da disseminação do HIV em que, se não conhecemos de perto alguém que já foi infectado, no mínimo conhecemos alguém que conhece alguém. E são pessoas exatamente iguais a nós, com o mesmo estilo de vida, com os mesmos anseios, medos e preocupações. Não dá pra saber olhando na cara de alguém se é soropositivo ou não (ainda bem!), por isso alguém que transa sem camisinha com frequência está sujeito a se tornar soropositivo sem sequer se dar conta disso. Quando um menino me diz “confia em mim”, penso: “e por que ele acha que pode confiar em mim?” Realmente, é muita ingenuidade, ou muita ignorância, achar que é possível saber “só de olhar” se alguém pode ou não estar infectado.
Toda essa situação, que já me deixa bastante chocada, tem me causado ainda mais preocupação porque, em mais ocasiões do que eu gostaria, ouvi amigas minhas contarem que também transaram sem camisinha. “A vontade falou mais alto, não deu para segurar”; “ele insistiu e acabei cedendo”; “eu sabia que estava fazendo merda, mas não consegui parar”. Sei que elas me contam isso esperando ter o meu apoio, ouvir algo como “não se preocupe, tenho certeza de que está tudo bem com você”, “todo mundo faz isso” ou “não se culpe, essas coisas acontecem”. Não consigo. Meu único jeito de ser amiga nessas horas é ser honesta: “faça o exame, e nunca mais faça isso, pois você se expôs a um risco muito grande”. É muito ruim falar assim com alguém que quer ser consolado por você. Mas como tapar o sol com a peneira?
Infelizmente, acho que tudo isso que estou escrevendo vai ter pouco efeito ou nenhum efeito para quem adota o sexo sem camisinha como prática (frequente ou ocasional). Duvido que alguma dessas pessoas não esteja suficientemente informada dos riscos que está correndo, dos meios de transmissão das DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis (cujo nome é autoexplicativo) –, das formas de prevenção. Dar uma bobeira dessas só pode ser sinal de onipotência ou de autodestrutividade. De qualquer forma, não custa repetir mais uma vez: no que diz respeito à AIDS, ou a outras dezenas de doenças – Hepatite, HPV, Sífilis, Clamídia, Gonorreia, só para citar algumas –, não faz diferença que seja “só um pouquinho”, “só dessa vez” ou “rapidinho”. Uma única exposição a um parceiro contaminado já é suficiente para a transmissão. E a maior parte dessas doenças é incurável, ainda que tratável.
Há muitas ocasiões na vida em que corremos riscos calculados, sabendo que estamos nos expondo, mas julgando que o risco vale a pena porque pode nos trazer uma grande recompensa no final. Transar sem camisinha definitivamente não é um desses casos. Tenha amor próprio. Use camisinha SEMPRE.